2007-11-08

Diary

08/11/2007 - 1

Estou começando hoje esse diário. Primeiramente, pois acho que eu tenho problemas de memória e muitas vezes, por não lembrar se dei ou não sei um recado, se fiz ou não fiz certa coisa e também por admitir não lembrar, acabo por ser culpado por não ter dado o recado ou por não ter feito certa coisa.

Também gostaria de ter um lugar para exercitar os conhecimentos aprendidos no estudo para o Itamaraty. Quando aprendi o inglês, sempre cri que adquiri qualquer fluência por fala sozinho, simplesmente. Assim, durante o estudo, tendo refrasear o que estou aprendendo e discutir as questões comigo mesmo. Talvez por influência do mesmo processo ter ocorrido no aprendizado do inglês, faço-o muitas vezes em inglês. Às vezes, tenho-o feito em español. Assim, peço que não se surpreendam if I suddenly change the language to English o castellano.

Voltando ao refraseamento, acho que quando nós tentamos dizer as coisas com as nossas próprias palavras, nós adquirimos uma forma de pensamento próprio e, com o meu sério problema de memória (still undiagnosed, but, in my opinion, existing), ao produzir o conhecimento acho que se torna mais fácil lembrar dele. Além disso, ao escrever o que estamos pensando, estruturamos o conhecimento e percebemos todos os buracos nele existentes.

Todo esse exercício talvez venha a diminuir o material de estudo ao qual estarei me expondo. Contudo, inclusive por conversa com Isabel realizada no II Encontro de Política Externa no Itamaraty no Rio de Janeiro, onde disse achar que um certo candidato do concurso que passara com pouco tempo de estudo, o havia feito por ter estudando "certo". Por estudar "certo", ela quis dizer, estudar fazendo resumos, realmente fixando o conhecimento estudado. Há divergências. Vai ficar confuso durante um tempo, mas no final tudo ir-se-á aclarar (mesóclise, muy belo).

Minha opinião é que o Itamaraty busca intelectuais. Intelectuais não são especialistas, são experts in generalidades. É uma pessoa que sabe ver the big picture. Sabe analisar os macro aspectos de uma situação, entender o sentido no qual caminha a sociedade, mas não sabe em detalhes sobre brocas utilizadas na perfuração de petróleo em águas profundas, nem sabe detalhes de discussões sobre a prosa de Euclides da Cunha. O que o Itamaraty quer, a meu ver, são pessoas que saibam que pontos uma estrada liga e não se a estrada é não qual é o tipo de asfalto que recobre o solo.

Essa sapiência, essa sabedoria, essa capacidade de versar em termos genéricos sobre quase qualquer coisa, não se constrói de um dia para o outro nem muito menos lendo manuais gerais. Lendo o História do Brasil, do professor Boris Fausto, lendo o História da Política Externa, dos professores Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, extraímos uma análise que apenas temos como memorizar. Penso que para entendermos de fato essa analise que os autores fazem (e aqui não estou dizendo que os livros acima citados são unicamente compêndios de opinião; possuem uma enormidade de fatos também) temos que entender os fatos, o objeto que os levou a fazer a análise daquela maneira. E creio que isso só se dá através do detalhe e do estudo multifacetado.

Algo que sempre se fala dos diplomatas é que eles sabem muito bem como serem "vaselinas". Eles tem que saber como dizer as coisas. Por exemplo, já comentando uma notícia – que é algo que pretendo fazer nesse estudo –, Charles Petrie, Chefe da United Nations Development Program, disse, segundo a Economist, que "the concerns of the people have been clearly expressed through the recent peaceful demonstrations, and it is beholden on all to listen." He also said the protests "demonstrated the everyday struggle to meet basic needs and the urgent necessity to address the deteriorating humanitarian situation in the country." Por causa desse declaração absolutamente neutra, que somente toca num ponto universal, incontestável, o casa vai ser expulso do país. Ele soube muito bom como dizer o que disse, apesar da conseqüência que teve.

Essa "vaselinagem" e essa capacidade de se articular de maneira geral creio que se consegue quando se compreende as vicissitudes do outro, quando se consegue entender os dois lados da história. É nisso que o estudo multifacetado pode ajudar – apesar de que, no caso da junta militar de Myanmar, até hoje não consegui entender o outro lado da história.

Assim, já exercitando a vaselinagem – que acho que é como eu sempre fui – por um lado, o estudo must be comprehensive in the sources you study, but, at the same time, open and manifold. This way, you don't have to take sides, and this is pure pragmatism, a rooted caracteristic in the Itamarati.

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