2008-05-06

Obama & Hillary

Outro dia a Miriam Leitão colocou um dos videozinhos dela no blog dela no globo dizendo que, se os democratas perderem as eleições esse ano, deveriam escrever um livro a quatro mãos: Como Perder uma Eleição Ganha. De fato, o que está acontecendo agora é uma total falta de visão de longo prazo e de missão. Estão explorando o ponto fraco uns dos outros e reduzindo suas chances de sucesso na corrida contra John McCain no fim do ano. Mas me parece que a atitude de Obama está mais correta do que a de Hillary.

Hillary começou continua explorando as pontos fracos de Obama: suas raízes estrangeiras – e sua conseqüente possível falta de patriotismo –; suas relações com o mundo islâmico – por ter nascido no Kênia; a sua teórica falta de experiência – representadas pelo “It’s 3am ad”; e as suas relações com o polêmico reverendo Jeremiah Wright.

Ao que parece, Obama só faz refutar as críticas, sem, no entanto, dirigir novas a Hillary. Essa semana saiu uma charge na Economist que revela bem o atual estado de coisas. McCain montado numa tartaruga, Obama e Hillary montado em cavalos de corrida, que deitados no chão, esperam a briga entre os dois terminar enquanto se distraem com o jogo da velha.



Não há uma relação óbvia e automática entre o governo Bush e um possível futuro governo de John McCain. McCain tem inclusive buscado se distanciar de Bush, apesar do latente apoio do presidente pelo candidato republicano; e existe a impressão generalizada de que ele é um republicano “diferente”.

A estratégia de Obama (sumarizada pelo mote da campanha: “change we can believe in”) é o mote que fez vencer tudo quanto é eleição nos EUA: mudança do atual estado de coisas – para melhor, claro. Obama parece ser o que mais capitalizou nessa idéia. Contudo, se McCain conseguir se distanciar de Bush – o que vai ser difícil com os seus comentários de que ficaria 100 anos no Iraque se fosse necessário –, conseguindo manter a imagem jovem e pouco representativa do maverick que estava pronto para voltar para casa na Guerra e se ofereceu para voar novamente porque a aeronáutica americana simplesmente precisava de pilotos, é possível que McCain venha a vencer.

Entretanto, nós sempre devemos pensar no longo prazo e no aspecto estrutural da campanha e isso me parecer ser o seguinte: os americanos estão insatisfeitos com os republicanos por conta do insucesso da guerra do Iraque e da maior crise econômica que os Estados Unidos vem sofrendo desde muito tempo.

Para o Brasil, em termos comerciais, é mais interessante que um republicano vença, pois os democratas tendem a acusar “the shipment of American jobs overseas” (nas palavras do próprio Barack Obama) ou “the loss of American jobs due to the purchase of imported goods”. Vencendo os republicanos, é possível que o mercado americano se abra mais, por exemplo, ao etanol brasileiro (que permanece sobretaxado em subsídio à incrivelmente ineficiente e (aí, sim) criminosa produção americana de etanol através do milho) e a outros produtos brasileiros. Os Estados Unidos não são o parceiro comercial que eram, mas ainda são muito importantes.

Contudo, vencendo os democratas, os EUA estarão muito mais abertos a uma agenda mais restritiva de emissões de gases do efeitos estufa pós-Quioto. Contudo, se Brasil e outros países em desenvolvimento (let’s call it “China”) (que não tem metas determinadas por Quioto) mostrarem receptividade em estabelecerem, no âmbito interno ou externamente, suas próprias metas, vai ficar insustentável, seja para democratas ou republicanos, não cortar emissões.

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