2008-05-28

Como é difícil entender

É tão difícil entender o argumento contrário à pesquisa com células tronco embrionárias que seriam descartadas por clinicas de fertilidade que o bom dia brasil hoje produziu a matéria mais tendenciosa dos últimos tempos:


2008-05-22

Money, que é good é nós não have. Ou have?

Reproduzo aqui as palavras de Miriam Leitão sobre a esquizofrenia fiscal do governo:

"O que fica difícil entender é como o governo pensa em recriar o mal-amado imposto do cheque com o argumento de que falta dinheiro para a Saúde depois de 10 dias de orgia de renúncia fiscal para diversas clientelas. Ninguém é bobo. Se o governo pode abrir mão de R$ 2 bilhões, por ano, com a Cide; de R$ 21 bilhões, em três anos, com impostos diversos para incentivar exportadores; se pode constituir um fundo com extra de superávit primário apenas para comprar títulos de bancos brasileiros para que eles emprestem para empresários a juros baixos, este governo não está precisando de mais dinheiro."

Mas se é para taxar, e se é para a saúde, por que não taxar os cigarros?

2008-05-20

Tem relação?

(tradução livre)

"Quando veio o colapso, foi mais drástico nos EUA, pois a insuficiente expansão da demanda havia sido amplificada por uma enorme expansão do crédito ao consumidor. [...] Os bancos, que já haviam sido prejudicados pelo boom do setor imobiliário que [...], repleto de dívidas mal adquiridas, se recusavam a conceder novos empréstimos para a aquisição de imóveis novos ou a refinanciar os antigos [...] Em 1933, quase metade das hipotecas dos EUA estavam atrasadas e quase mil delas estavam sendo executadas por dia."

Erik Hobsbawn, Era dos Extremos, sobre a crise de 1929.

2008-05-19

See a parallel?

"When the collapse came, it was all the more drastic in the U.S.A. because in fact a lagging expansion of demand had been beefed up by means of an enormous expansion of consumer credit. [...] Banks, already hurt by the speculative real-estate boom which [...], loaded with bad debts, refused new housing loans orto refinance existing ones. [...] while (in 1933) nearly half of all U.S. home mortgages were in default abd a thousand properties a day were being foreclosed."

Erik Hobsbawn, The Age of Extremes, on the 1929 crisis.

2008-05-14

Seqüestro de Votos

Há algumas semanas, Ralph Nader anunciou sua candidatura à Casa Branca. Nas eleições de 2000, ele foi criticado por ter tirado votos de Gore na Flórida e dado, assim, a vitória à Bush. Como 48% dos americanos estão dizendo que votariam em McCain, existe o receio de que o mesmo venha a acontecer desta vez.

 

Contudo, o ex-republicado Bob Barr declarou que vai disputar a nomeação pelo Libertarian Party, um partido também de direita. Barr não tem a mínima possibilidade de vencer a disputa pelo salão oval, mas seu posicionamento direitista em relação às questões e suas ferinas críticas a John McCain, é possível que venha a fisgar alguns votos dos republicanos e abrir uma margem mais confortável para os democratas.

 

Se o Barr é bom, o show é de Obama. (Ê, piadinha infâme.)

Vote Sequestration

A few weeks ago, Ralph Nader, announced his candidacy for the White House. In 2000, Nader was criticized for having taken votes off Gore in the key state of Florida (note double meaning), thus supposedly handing the win to Bush. (Its no fair criticism, but criticism isn't made to be fair anyway.) With 48% of Americans saying they would vote for McCain, the same is feared to happen now.

 

However, Bob Barr might have come to save the day. A former republican, he declared he'd seek the nomination for presidential candidacy from the Libertarian Party, also a right-wing party. Barr has absolutely no chance of winning the oval office, but with that right-wing stance and profound criticism on McCain, he actually might seize some republican votes and open a more comfortable margin for the democrats.

 

Long live libertarians!

Environmental Image

The freeing of Bida (the farmer who had previously been convicted for 30 years of prison for having hired killers to slain a nun in the state of Pará, in Brasil, and who was set free in a court of appeals on an awfully conceived change of the gunman's statement) had already been hurtful and despised, but now, combative minister of the environment, Marina da Silva, resigns "irrevocably" from office. That is certain to sent a very bad message for the world governments and environmentalists.

 

A farmer hires a gunman to kill a missionary nun who had been accusing him of crimes against the environment and is not convicted by teh Brazilian Justice. A proactive minister who fought the government on environmental issues (especially the minister of agriculture, Reinhold Stephanes) quits. It is certain that many editorial pages and news stories envisioning a growing trend of environmental nonchalance will be published.

 

Let us just hope that the government starts addressing deforestation – with which Brasil and the world have much to loose – more seriously.

Imagem Ambiental

Como se não bastasse o inocentamento do fazendeiro Bida (que havia sido condenado a 30 anos de prisão em primeira instância como mandante da morte da missionária Dorothy Stang e que, na apelação, foi inocentado com uma mudança de versão muito mal contada do pistoleiro), agora a ministra Marina Silva pede demissão "irrevogável" ao presidente. Isso vai passar uma mensagem péssima para os governos do mundo e os ambientalistas.

 

Um fazendeiro que manda matar uma freira que o acusava de crimes ambientais é inocentado e uma pró-ativa ministra do meio-ambiente (que vinha batendo de frente com o governo – e especialmente com o ministro da agricultura Reinhold Stephanes – em relação a questões ambientais) se demite. Vai sair por aí matéria definindo nisso uma tendência de descaso ambiental.

 

Vamos ver se isso pelo menos faz com o governo comece a combater mais seriamente o desmatamento, com o qual o Brasil e o mundo tem muito a perder.

Religion and State, Religion or State, Religion in State...

Zapatero's government in Spain has decided to cease passing on money from taxpayers for the Catholic Church (more than 140 million Euros per year). Besides that, the State would start collecting the taxes Spanish catholic clergymen have never paid. Spain was the last bastion on the practice, and now Spanish citizens can choose weather they contribute 0.7% of their income taxes or not. Churchmen (in the case of Catholics, you don't have to say "churchpeople") responded with a campaign to stimulate "donations" and declared that Spanish democracy is threatened by "excessive secularization".

 

I'd say it's the opposite. It only makes sense to give money to the church if the church controls the State and there's no religious tolerance. It is not a function of the State to stimulate religious practice. If that was the case, the bare minimum a truly democratic system requires is that all churches benefit from it. Which – let us be honest – would wreck government finances.


Sacoliña

(Inspirado por Matéria do Globo)

O governo de Zapatero decidiu cortar os subsídios que dava à igreja católica (mais de 140 milhões de Euros anuais). Além disso, o governo também passará a cobrar impostos. A Espanha era o último país europeu onde o Estado ainda "colaborava" com a igreja, e, agora, os contribuintes podem escolher se doam ou não 0,7% do imposto de renda para a instituição. A igreja respondeu e está fazendo uma campanha para que os fiéis façam a "doação" e declarou que a democracia espanhola está ameaçada pela "laicização excessiva".


Eu diria que é exatamente o oposto. Só faz sentido o Estado dar dinheiro de impostos para igrejas se essas controlarem o Estado e houver intolerância religiosa. Não é função do Estado estimular a atividade religiosa. Fora, o mínimo que a democracia pede é que todas as religiões sejam contempladas. O que – convenhamos – quebraria o erário.

Time Flies and You Are There. Time Whines and You Are There.

Time goes by and it is absolutely impressive that the American Republican Party does not develop the decency to stop using fear-mongering as a electoral strategy. In Brasil, it was apparently introduced in the 2002 campaign, when Regina Duarte (a famous actress and ever-since a target of teasing) said she "was afraid" of what might happen if Lula was elected.


McCain's latest is that Hamas would prefer Obama to be elected. Fair enough, the Democratic Party has a shorter history on violating the basic principle of international law of non-intervention in domestic affairs.

E a Poupança Bamerindus Continua Numa Boa...

O tempo passa, o tempo voa e é absolutamente impressionante que o Partido Republicano Americano continue tendo a indecência de usar como estratégia eleitoreira o famoso "fear-mongering" (ou seja, fazer com que as pessoas tenham medo do que pode acontecer se o candidato adversário vencer). No Brasil, foi a Regina Duarte que começou essa história. :)


A última agora é McCain dizendo que o Hamas prefere que Obama seja eleito. O pior é que é verdade: o Partido Democrata têm uma história menor de violação do princípio básico do direito internacional de não-intervenção em assuntos domésticos. 

Traduções

Não sei se vocês já perceberam, mas eu sempre escrevo ou em português ou em inglês, dependendo do meu estado de espírito. Não sei se isso vai dar certo, mas vou tentar, a partir de agora, postar tanto em português quanto em inglês. Assim, meus dois ou três leitores (minha mãe sendo um deles) poderão admirar as maravilhas do meu cérebro bilingualmente. É justo, visto que o escritor é o alterergo de um tradutor. 

Translations

Not sure you noticed, but I either write in English OR in Portuguese, depending on my state of mind (throws his hair back gaily). This is only a tentative proposal, but I'll try to post in both Portuguese and English from now on, so that my two or three readers (one of them my mom) can enjoy the marvels of my brain billingualy. Fair enough being the writer the alterego of a translator.

It Had to Be Him

In my car, today, I was listening to an analyst putting forth a hypothesis that my friend Rafael Azzi had already posed to me a couple of months ago. I'm not sure he had read it somewhere else, but anyway. President Hugo Chávez of Venezuela had always been fire-tongued and combative, but now he attacked Angela Merkel, saying that she was a daughter of Nazism. I think that requires no comment. Chávez has already ill-spoken about other chiefs of State such as Uribe, Lula and Bush. His altercation with King Juan Carlos of Spain became notorious and even generated ringtones for mobile phones with the king's "por que no te callas" ["why don't you shut up?"]

Chávez's, with his gratuitous fights with "adversaries", would only be trying to enhance his nationalistic image, in order to regain the margin of popularity he lost. The Venezuelan president started his government with 70-75% approval ratings, and now (with lack of basic products on shelves, high inflation, the closing of a popular TV channel, discussions on corruption in his government, etc.) it has gone down to 51%. This is a very good approval rate still; Chávez has produces vast improvements in Venezuela's social indexes, but it seems that his mojo is starting to dry.

Come November, Venezuela is going to face state and municipal elections. Currently, twenty-two of the twenty-four states of Venezuela are controlled by the chavismo, and Chávez still has a vast majority of seats in the Congress, but his ultra-mega-tantalizing package of constitutional proposals has been democratically declined by the population. November will test his political vigor.

But the thing is: wasn't there a better way to do it than constantly threatening war with Colombia, cursing Brazilian biofuels, saying Angela Merkel is a bloody nazi and calling Bush a "pajarito" (whatever that is)? Chávez is running the risk of contracting a serious boy-who-cried-wolf infection:

"Venezuela threatened Colombia with war"

"Who said that"

"Chávez"

"Ha!"

Tinha que ser o Chávez

No carro hoje, ouvi um comentarista (Labareda) no programa do Boechat, na Band News FM, apresentando a mesma hipótese que um colega meu (Rafael Azzi) havia levantado sobre o Chávez. Chávez sempre foi muito combativo e sempre teve a língua solta, mas agora veio a atacar a Ângela Merkel, dizendo que era "filha" do nazismo e etc. (Não vou nem comentar isso). Chávez já falou mal de outros chefes de Estado, entre eles, Bush, Uribe, Lula. Sua altercação com o Rei Juan Carlos da Espanha ficou famosa e gerou até ringtones para celular com o "por que no te callas?".

 

Através do enfrentamento (gratuito) dos "adversários", segundo a tese, Chávez estaria querendo enaltecer sua imagem nacionalista, com vistas a compensar sua perda de popularidade. Chávez começou seu governo com 70-75% de aprovação e agora (com um sério desabastecimento, alta inflação, o fechamento de uma emissora popular de televisão, discussões sobre corrupção em seu governo e etc.) caiu para 51%. Ainda é uma popularidade muito alta. Chávez produziu grande melhoria nos índices sociais venezuelanos, mais parece que o seu mojo está começando a secar.

 

Em novembro, a Venezuela passará por eleições para estados e municípios. Atualmente, 22 dos 24 estados Venezuelanos são chavistas. Além disso, Chávez também possui maioria no congresso. O mega pacote de alterações constitucionais de Chávez não passou, e novembro trará nova prova da vitalidade do presidente no governo.

 

Mas será que não tem estratégia melhor do que ficar falando em guerra com a Colômbia, xingando os biocombustíveis brasileiros, dizendo que a Ângela Merkel é nazista, que Bush é um "pajarito" (seja lá o que isso for)? O Chávez está correndo o perigo de se auto-banalizar:

 

- A Venezuela ameaçou a Colômbia com guerra.

- Quem disse isso?

- O Chávez.

- Prrrrrrrrr.

Hillary’s Career and the Vice-Presidency

Despite the latest calls for a Obama-Hillary campaign against McCain, Hillary's careers can do better than that. First of all, in the case Obama wins against McCain – which has been forecasted by the Bush Administration's economic and defense results –, and Obama screws up in his 4 years in the Oval Office, Hillary might be able to beat him in the next primaries. If not, there's a lot she can still do in the Senate. So, Hillary wouldn't gain much politically as a vice-president. Moreover, McCain would come guns blazing onto Obama for trusting someone who extensively rattled against him in his closest staff.

 

A Obama-Gore campaign, on the other hand…

A Carreira de Hillary e a Vice-Presidência

Apesar de todos os clamores para que uma chapa com Obama e Hillary fosse formada para disputar contra McCain, não é isso que a carreira de Hillary pede no momento. Primeiro, caso Obama vença a disputa com McCain – o que os resultados econômicos e militares do governo Bush já mais do que anunciaram que vai acontecer –, e caso ele faça um mau governo (o que com a dívida atual gerada pelos oito anos de Bush é bem possível), Hillary poderá vencê-lo mais facilmente nas próximas primárias. Caso isso não aconteça, ela ainda tem muito a fazer no senado. Para concluir, Hillary não teria muito a ganhar politicamente com a vice-presidência. Além disso, McCain cairia em cima de Obama por confiar  e colocar no seu gabinete alguém que falou mal dele.

 

Já se fosse Obama para presidente e Gore para vice... 

Dehillarous, the Unwise Investor

Hirillous is Dehillary. No, Hillary is delirious. With a grim-(and amazingly red)-faced Bill Clinton who stood behing her back, Hillary declared that the race will go to the ends of the earth. She has just put million more dollars of her own money into the campaign and exulted her audience to go to her website and donate. All analysts say that Obama is "Almost There" (as the cover of the Economist says) or that he is the winner (as the cover of Time Magazine says) and that it is very unlikely for Hillary to win enough superdelegates to get the nomination.

 

It's just a bad investment. It'd be better to get the 2% a year in interest.

Lirary está Dehillando

Quer dizer: Hillary está delirando. Tendo sobre seu ombro esquerdo um circunspecto e incrivelmente vermelho Bill Clinton, Hillary anunciou que a corrida vai até o fim dos tempos. Ela acabou de injetar mais alguns milhões de dólares na campanha e quase implorou ao seu público que fossem até a sua página na internet e fizessem doações. Todos os analistas dizem que Obama está "Almost There" ("Quase Lá", como diz a capa da Economist), ou que ele é o vencedor da corrida (tal como na capa da revista Time: "And the winner is...") e que é muito improvável que Hillary consiga um número suficiente de superdelegados para garantir a nomeação.

 

É simplesmente um péssimo investimento. Era melhor ela ter comprado títulos do governo que rendem 2% de juros ao ano.

2008-05-13

Energia, Brasil, Argentina e Uruguai

O que se houve falar dos analistas é que a segurança energética foi aliviada pelas vultuosas chuvas que tivemos nesse começo de ano. Autoridades já declararam que os anos 2008 e 2009 estão assegurados. Contudo, mesmo assim, o Brasil não tem energia sobrando.

 

Apesar disso, o Brasil venderá energia para Argentina e Uruguai durante o inverno. Como tudo na vida, há um lado bom e um lado ruim. O lado ruim é que os reservatórios se esvaziam agora que deveriam ser preservados (quando a temperatura cai e se gasta menos com ar-condicionados). O lado bom é que mantém-se um clima de cooperativismo, amizade e solidariedade com os membros do Mercosul, um dos principais parceiros comerciais do país.

Notícia Velha: CCJ, Hidrômetros Individuais e Água

(matéria do Globo)

 

A CCJ da Câmara aprovou a constitucionalidade de um projeto de lei que obriga o uso de hidrômetros individuais em condomínios. A lei ainda teria que passar pelos trâmites normais, então, vamos esperar.

 

Atualmente, nos condomínios brasileiros, o morador recebe somente uma "Conta de Condomínio", onde estão embutidos todos os gastos relativos às áreas comuns e a água de todos os apartamentos. Isso faz com que alguns desconsiderem a economia de água – visto que o valor é dividido por todos os condôminos.

 

Para se ter uma idéia, em matéria publicada em fevereiro desse ano no Le Monde Diplomatique Brasil – e não vou poder citar os números com precisão porque não tenho o documento em mãos –, foi mencionado que a ONU considera, como padrão, que uma pessoa precisa de 110 litros de água por dia para viver. Nessa conta está incluída a água usada para lavar roupa, para cozinhar, para limpar a casa, para tomar banho e, obviamente, para beber. No Rio de Janeiro, consome-se mais de 240 litros por pessoa em média. Em meu edifício, são 270.

 

O problema é que a água só é distribuída para as unidades já dentro dos edifícios – o que dificultaria o funcionário da distribuidora de águas (no caso do Rio, a CEDAE) verificar o consumo para poder calcular o valor a ser cobrado. Além disso, é comum que haja mais de uma entrada de água no mesmo apartamento ou unidade (uma coluna na cozinha e outra nos banheiros), o que faria com que não só mais de um hidrômetro tivesse que ser instalado, como também que tivessem que ser instalados dentro dos apartamentos.

 

A CEDAE, normalmente, calcula o valor da conta de água por uma média dos últimos meses, verifica (a cada certo número de meses) o valor marcado no hidrômetro e faz a compensação na conta seguinte (caso tenha sido cobrado uma valor maior ou menor). Não sei se isso se dá por corte de custos, por carência de recursos ou recursos humanos insuficientes para verificar as medições, mas imagino que aumentar em várias vezes o número de hidrômetros e ainda colocá-los dentro dos prédios (ou até dentro dos apartamentos) não só impossibilitaria as verificações, como abriria margem para muita mutreta.

 

Isso leva a conclusão de que talvez a melhor estratégia seja obrigar os hidrômetros somente nas novas construções – o que fará a renovação demorar pelo menos mais uma geração. Até lá, vale a conscientização.

 

Síndicos poderiam colar comunicados em áreas comuns e elevadores com informações sobre a necessidade de se economizar água, sobre o consumo total e per capita dos moradores e sobre a insustentabilidade dos atuais níveis de consumo.

 

O que ninguém leva em consideração é que, para fazer a água com que tomamos banho, lavamos roupa, limpamos o chão, escovamos os dentes, cozinhamos e etc. chegar até nossas casas, além da própria água, são necessários muitos KWhs para bombeá-la até as indústrias e residências.

 

Além disso, tratar água é custoso e envolve uma enormidade de processos físico-químicos. E nós lá, desperdiçando água potável (e energia) lavando calçadas, pisos e levando nossas fezes para longe de nós.

Eficiência Energética

(Matéria do Canal Energia)

 

Quando se fala em aquecimento global, obrigatoriamente temos que falar de energia. A geração de energia é um dos grandes vilões. No Brasil, onde 85% da energia elétrica brasileira provém de fonte hídrica, nem tanto. O Brasil está tentando diversificar suas fontes energéticas instalando, por exemplo, termelétricas a carvão, gás natural e bagaço de cana, fazendas de energia eólica (cuja margem ainda é muito pequena, mas dobrou de tamanho no último ano) e usinas nucleares. Novas usinas hidrelétricas (tanto grandes projetos como Jirau e Santo Antônio e as chamadas Pequenas Centrais Hidrelétricas) também estão à caminho.

 

É louvável desenvolver a capacidade energética, mas há muito o que se ganhar com eficiência. Só para dar um exemplo, a Eletropaulo vai reformar a iluminação do estádio do Pacaembu e, com isso, deixará de consumir 441,2 MWh (o equivalente a uma economia de R$ 132 mil reais). Nos Estados Unidos, além de muitas outras coisas, há uma campanha para a renovação de prédios antigos (cujos sistemas de condicionamento de ar mais antigos consomem montanhas de energia e dinheiro). O que mais não haverá por aí consumindo mais energia do que o necessário?

 

O problema é a cultura do imediatismo e da inobservância dos custos de operação. No momento da compra de um aparelho elétrico, não levamos em conta a quantidade de energia consumida mensalmente. Dependendo da situação, o preço de aparelhos mais caros (porém mais eficientes), no longo prazo, são compensados. O mesmo pode acontecer na construção civil. No caso de uma licitação pública, por exemplo, o único critério estabelecido para a escolha da prestadora é o preço, deixando-se de observar os custos de operação do edifício. Isso também ocorre no âmbito particular.

 

Só para citar mais exemplos, fios de cobre mais finos são mais baratos, mas esquentam mais, não conduzem a eletricidade de forma tão eficiente quanto fios mais grossos e, portanto, geram desperdício de eletricidade. Num condomínio, hidrômetros individuais para medição do consumo de cada unidade representam um gasto extra e um aumento no custo dos compradores. O mesmo acontecendo com sistemas de coleta de água da chuva para uso nas descargas. O custo de uma lâmpada incandescente de 100W é umas 7 vezes menor do que o equivalente em luminância em lâmpadas fluorescentes. O custo inicial da instalação de painéis solares para aquecimento de água é algo, mas, se a alternativa é o chuveiro elétrico ou o boiler elétrico, a economia no longo prazo é imensa.

 

O pior é que a lista por aí vai...

La Nación Lulista

(Matéria do Globo)

Vou reproduzir aqui trecho de reportagem do Globo, ainda na esteira do grau de investimento:

A elevação da nota da dívida brasileira também é tema de um editorial publicado nesta quarta-feira pelo diário argentino La Nación, para quem ela representa "o triunfo da continuidade de políticas de Estado ao longo de sucessivos governos".

Para o jornal, a contrapartida do caso brasileiro é a Argentina, "que se reflete em retrocessos relativos e na gravidade crítica com a qual se julga no cenário mundial".

"Enquanto o país de Lula adquiriu o tão apreciado grau de investimento, a qualificação de nossa dívida soberana sofreu um revés: agências internacionais de classificação de risco sinalizaram com uma tendência negativa, e se o Estado argentino decidisse hoje buscar financiamento, teria que aceitar taxas de juros bastante elevadas", observa o editorial.

Para o diário argentino, "o Brasil brinda a manifestação mais eloqüente de que a linha divisória entre esquerda e direita é uma questão do passado e que hoje os países devem resolver entre estar a favor do progresso, racional e solidário, ou ficar presos nas redes do populismo irracional".

"Lula exibe a virtude dos estadistas capazes de superar velhos preconceitos e pode dizer, com razão, que o Brasil 'passou a ser considerado um paíssério'", diz o jornal.

E viva o pessimismo argentino e o sebastianimo brasileiro!

2008-05-12

Internalização, escolhas econômicas e meio-ambiente

No nível conceitual, uma das soluções para o problema do aquecimento global é o que se tem chamando de "internalização de custos". O mercado, da maneira que funciona atualmente, leva em consideração somente uma parcela dos custos econômicos da atividades. Uma usina poluidora não inclui, em seus balancetes, os custos médicos do tratamento de milhares de pessoas que poderão sofrer, por exemplo, problemas respiratórios. Os pacientes correm para o sistema público de saúde, financiado pelo governo, que acaba, inconscientemente, subsidiando a atividade poluidora. A mesma lógica pode ser estendida aos danos dos "eventos extremos" associados ao aquecimento global, à poluição das água, à redução da biodiversidade e daí por diante. Com isso, atividades economicamente que, sem levar em consideração suas conseqüências ambientais, eram lucrativas, talvez o deixem de ser. 

2008-05-08

Kissinger, Henry. “Realpolitik turns on Itself”. In: Diplomacy

Some consider Henry Kissinger to be a crook, but still he is a very crafted writer in the English language – despite his German origins. I’ve bought his Diplomacy last year and managed to read a few chapters. I’m now on “Realpolitik turns on itself”. Here’s my yet unrevised summary to it:

With the German unification, for the first time, the center of Europe was powerful enough. What was still called the Concert of Europe was driven by two antagonisms: France and Germany, the Austro-Hungarian Empire and Russia. With the Ottoman Empire in the throes of disintegration, there were five elements to the European Balance of Power: England, France, Germany, Austria and Russia. Kissinger looks at History from the German perspective and wishes to decipher the “country’s” actions. To be on the most powerful side, Germany had to side with two other powers, in order for the game to be 3x2. England was in its “splendid isolation” policy, and “Russia was ambivalent due to its conflict with Austria”. Germany had to side with both Russia and Austria.

The problem was that, despite Russia’s messianic sense of “obligation to liberate Slavic peoples from foreign rule”, and “as nationalism became the prevailing organizing principle, [not only] the crowed heads of Russia, Prussia and Austria had less and less need to join together in a common defense of legitimacy (that is, monarchy, the Holy Alliance an all), [but also] no common bond now constrained the ever-sharpening conflict between Russia and Austria over the Balkans.

So Bismark, Germany’s ministerpräsident, had to maneuver through. “He needed goods relations with Russia without antagonizing Great Britain – which was keeping a wary eye on Russian designs on Constantinople and India.” Moreover, his “goal was to give no other power any cause to join an alliance directed against Germany: he sought to reassure Russia that Germany had no interest in the Balkans; mounted no challenge that would trigger a British concern for the equilibrium; and kept Germany out of the colonial race.” However, “no common ideological bond now constrained the ever-sharpening conflict between Russia and Austria over the Balkans, or between Germany and France over Alsace-Lorraine.”

Great Britain had been a balancer of the Concert of European, and now it was the only major power in Europe not to have animosities against another power. But it was confused as to which was the major threat. In the previous scenario, no country had the capacity of dominating the Continent by itself. With the unification of Central Europe, Germany gained it. But Great Britain’s focused on France – especially in Egypt – and Russia – which was expanding in the Straits, Persia, India and, later, China.

So Germany formed the Three Emperors’ League, in 1873. But Bismark, an advocate of Realpolitik, “had lost his legitimist credentials” and Austria and Russia were at each other’s throats for the spoils of the “decaying Ottoman Empire” in the Balkans.

Realpolitik had come to stay and Kissinger presents two events that prove it:

i)An increase in French military expenditures stimulated and Editorial “Is War Imminent?” in a German newspaper. The French diplomacy jumped at the false opportunity (there were no troop movements) created the impression that Germany was planning to attack and put out the story that the Russian Tsar had said that he would side with French upon a German attack. Disraeli, Great Britain’s Prime Minister, asked his Foireign Secretary to approach the Russian Chancellor in order to intimidate Berlin. “The combination of British uneasiness, French maneuvering and Russian ambivalence convinced Bismark that he needed an active policy to stave-off the building of a coalition against Germany, which would, in WWI be called the Triple Entente.”

ii)“In 1876, Bulgarians, who for centuries had lived under Turkish rule, rebelled and were joined by other Balkan peoples. Turkey responded with appalling brutality, and Russia, swept up by Pan-Slavic sentiments, threatened to intervene.” London considered that “if Russia controlled the Straits it would threaten Great Britain’s position in Egypt” and, therefore, “the Ottoman Empire had to be preserved even at the risk of war with Russia.”

Due to its interests in the Balkans, Austria was due to enter the fray, so Bismark tried to strengthen the Three Emperor’s League, seeking a common position – expressed in the Berlin Memorandum, which warned Turkey against the repression.

Disraeli(Great Britain) decided to move “the Royal Navy to the Eastern Mediterranean, [proclaim] his pro-Turkish sentiments […] [and encourage] the Ottoman Turks to reject the Berlin Memorandum and to continue their depredations in the Balkans.” However, “the Turks atrocities had turned British public opinion against them” and Disraeli “felt obliged to accede to the London Protocol of 1877, in which he joined the three Northern courts in calling on Turkey to end the slaughter.” But the Sultan […], convinced that Disraeli was on his side […], rejected even this document. Russia’s response was a declaration of war.”

Russia arrived at the gates of Constantinople and announced the “Treaty of San Stefano, which would emasculate Turkey and create a ‘Big Bulgaria’”, which, under the other powers’ expectations, “would be dominated by Russia”. That enormously raised the odds of Russia dominating the Straits – which was intolerable for Great Britain – and the Balkans – which was intolerable for Austria. Britain and Austria threatened war. In August 1876, Gorchakov, the Russian minister of foreign affairs had proposed a congress to settle the crisis, but “Bismark demurred, believing that a congress would only make the differences within the Three Emperors’ League explicit. However, “as it increasingly appeared that the Balkans would become the fuse to set off a general European war, Bismark reluctantly organized a congress in Berlin.

In the Congress, “his approach was generally to back Russia on questions concerning the eastern part of the Balkans […] and to support Austria on those relating to the western part.” However, “many Russians felt cheated of victory […], [and] Russia [had] never relinquished an ultimate objective or accepted compromise as just. […] Thus, after the Congress of Berlin, Russia blamed its failure to achieve all of its aims on the Concert of Europe” and, ultimately, “on Bismark, who had managed the Congress in order to avoid a European war.” Although Shuvalov (the new Foreign Minister) and the Tsar himself didn’t consider Germany to be the culprit of Russia’s failures, the Russian public opinion did so, and “German perfidy at Berlin would become the staple of many a Russian policy document.”

Until then, Germany had stood aloof as to alliances of any kind, keeping its options open. But by the 1880s, Germany was too strong to do so, for “that might unite Europe against it”. At the same time, it could “any longer rely on the historic […] support of Russia”. Bismark decided to arrange relationships with the largest possible amount of countries. a)It started with “a secret Alliance with Austria”. “Considering Great Britain to be Russia’s chief adversary and France still too weak […] to be a plausible ally, the Tsar agreed to resurrect the Three Emperor’s League”, but now not on moral grounds: “it committed its signatories to benevolent neutrality in the event that one of them engaged in a war with a fourth country”, and “Germany’s commitment to defend Austria against aggression remained intact”. b) In 1882, Bismark persuaded Italy to form a Triple Alliance with Austria and Germany. (Italy would usually be out of European power politics, but it “resented the French conquest of Tunisia”.) “Germany and Italy pledged mutual assistance in the case of a French attack” and “Italy pledged neutrality to Austria in case of war with Russia”. c) In 1887, “Bismark encouraged his two allies […] to conclude the so-called Mediterranean Agreements with Great Britain, by which the parties agreed to presence jointly the status quo in the Mediterranean.” d) “Bismark did his utmost to satisfy French ambitions everywhere except in Alsace-Lorraine.” Moreover, “he encouraged French colonial expansion,” since it embroiled it further with Great Britain.

However, “Bismark’s 18th-century Cabinet Diplomacy was becoming incompatible with and age of mass public opinion,” which influenced more and more the countries decisions concerning their foreign policies. Gladstone, a premature Wilsonian idealist, defeated Disraeli in the 1880 suffrage and refrained Great Britain from Realpolitik. In Germany itself, “despite the fact that the Reichstag was elected by what was the widest suffrage in Europe, German governments were appointed by the emperor and reported to him,” and, therefore, “deprived of responsibility, Reichstag members were at liberty to indulge in the most extreme rhetoric.”

“In 1881, a new Tsar, Alexander III,” who distrusted Bismark, “came to the throne”. In 1885, a new crisis in Bulgaria leads for a new country unified under a German prince and, therefore, to the outrage of Russia, which breaks the Three Emperor’s League in 1887. But Bismark new that, left alone, Russia would soon form an alliance with France, and devised the Reinsurance Treaty, through which “Germany and Russia promised each other to stay neutral in a war with a third country unless Germany attacked France, or Russia attacked Austria.”

Nonetheless, “Bismark’s machinations, which were intended to provide reassurance, overtime had an oddly unsettling effect, partly because his contemporaries had such difficulty comprehending their increasing convoluted nature.” Moreover, “overlapping alliances designed to ensure restraint led to suspicion.” “It was far from inevitable that it should have been replaced with a mindless armaments race”

In 1890, the balance of power was bound to die. “Its corollary of raison d’état had led to frequent wars whose primary function was to prevent the emergence of a dominant power,” but it “preserved the liberties of States, not peace.”

2008-05-07

Oil, demand and government action

With this new US$120 peak, one question arises: “When the heck will a decrease in demand will rush in – floating cape and all – and bring down the evil dr. Price?

It’s been a few years (I’m toning it down a bit with the “few”) since predictions have shown an oil peak to be arriving. Those predictions have varied, but it is certain that new oil discoveries have not follow the rise in demand. That is one of the reasons for this oil price peak – but there are other conjectural elements to it: the dollar devaluation (since as compared to the Euro, oil has spiked “only” around 30%), like riots in Nigeria, the Iraq war, political instability in Venezuela, the Chinese increase in demand and so on.

There is still a lot of oil available. What has to be understood is that, from now on, there will be increasingly less of the cheap oil, that is, the petroleum that is easy and inexpensive to collect and distribute. Saudi Arabia still has large reserves of light/easy oil, but onwards, sources like the heavy oil of Venezuela and the Tar Sands of Alberta will have to come in play to meet the demand.

The problem is that this oil is more expensive to be extracted, and, in order for that to be economically viable, an increase in profit returns will have to come about. An increase in prices would be a way.

So here we face a dilemma in which (in the long term, due to high prices) a two-pronged phenomenon will develop. On the one hand, demand will decrease (since alternative sources of energy will start looking more profitable) thus driving the price down and, on the other hand, investments in not-so-cheap oil will become attractive, which would increase the supply, maybe cause a drop in prices and bring down profit margins.

If oil demand stays where it is (that is, increasing by the minute), profits won’t go down and more oil will be driven into the markets; and it is more likely for new investments to move into the more expensive oil than old money (that hasn’t returned all the expected profits) to be pulled out and allocated in different businesses.

Governments have the inescapable, possibly irreplaceable, chance to act and make sure that no more money is put in oil. Now tell that to Venezuela, Nigeria, Saudi Arabia, Russia and Brazil…

2008-05-06

Europa e Carvão

http://www.nytimes.com/2008/04/23/world/europe/23coal.html?ref=environment

http://www.mediafire.com/?lmdblgbzlnn

Uma matéria recente no New York Times revelou que a Europa (a matéria menciona Itália, Alemanha e República Checa) está voltando a construir termelétricas a carvão. Estão planejadas pelo menos 50 na Europa. Com a alta dos preços do petróleo e do gás natural – estimulados pela ausência de cartelização no mercado de carvão, do seu baixo preço e dos 200 anos de reservas do combustível ainda disponíveis –, países europeus estão voltando ao carvão.

Pensando somente no mercado e no curto prazo, a decisão européia não poderia estar mais correta, afinal o custo dos combustíveis atualmente utilizados subiu, segundo o NYT, 151% desde 1996 (e sabemos que, em Euros, o preço do barril do petróleo subiu quase 30% desde 2006). No Brasil, Eike Batista está planejando fazer termelétricas a carvão no Ceará.

Esse retorno é prova de que somente uma solução de mercado poderá resolver o problema do Aquecimento Global. O carvão tem que deixar de ser a matéria-prima mais barata para geração de eletricidade. E, pelo mercado, isso não vai acontecer tão cedo. Isso provavelmente acontecerá por meio de ação governamental.

Uma possibilidade é incluir-se – na produção e/ou no consumo (dependendo do caso) – um valor referente ao custo da mitigação da emissão, o que, essencialmente, é o mecanismo de cap-and-trade (créditos de carbono) de Quioto. Emitiu, mitigou.

O problema é que a mitigação tem um limite. É impossível pensar num cenário em que emitimos tudo quanto quisermos e seqüestramos a totalidade do carbono emitido. Atualmente, a capacidade de absorção de carbono pelas florestas e oceanos é algumas vezes menor do que as emissões da humanidade, e é por isso que o carbono se acumula na atmosfera. O mecanismo capitalista de transformar o problema em uma possibilidade de lucro (através da venda dos créditos de carbono), é uma boa idéia, mas, por si só, não vai resolver o problema. Seqüestrar todo o excesso de carbono que emitimos para que deixe de se acumular na atmosfera é quase intangível e, portanto, a não-emissão é essencial.

Um imposto sobre o carbono emitido que tornasse alternativas limpas mais economicamente viáveis seria uma solução, mas esbarra em interesses, como tudo na vida.

Small Donors


Obama and Hillary both have incresed their funding through small donors. What does that mean? That means that democrats will be less likely to be preassured by big corporations or lobby groups. If that can be accounted for anything, the amount of money that companies outsourcing services for the US military made in the Iraq war is huge. Of course they're getting money for auto-makers, coal producers and all, but that's just part of the game.

China e Tibete

http://arruda.rits.org.br/oeco/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=6&pageCode=90&textCode=27219



Ótimo artigo de Enrico Bernard para O ECO sobre a contenda histórica entre a China e o Tibete. Segundo Bernard, estão no Tibete grande parte da biodiversidade de todo o território Chinês, grande parte da madeira, dos minérios (inclusive minério de ferro de boa qualidade), do petróleo, e, principalmente, da água. O Planalto Tibetano é o ponto formador de uma série de rios chineses e suas águas fluem em grandes gargantas, o que garante imenso potencial hidroelétrico. E a China? Bom, a China tem o exército.

Obama & Hillary

Outro dia a Miriam Leitão colocou um dos videozinhos dela no blog dela no globo dizendo que, se os democratas perderem as eleições esse ano, deveriam escrever um livro a quatro mãos: Como Perder uma Eleição Ganha. De fato, o que está acontecendo agora é uma total falta de visão de longo prazo e de missão. Estão explorando o ponto fraco uns dos outros e reduzindo suas chances de sucesso na corrida contra John McCain no fim do ano. Mas me parece que a atitude de Obama está mais correta do que a de Hillary.

Hillary começou continua explorando as pontos fracos de Obama: suas raízes estrangeiras – e sua conseqüente possível falta de patriotismo –; suas relações com o mundo islâmico – por ter nascido no Kênia; a sua teórica falta de experiência – representadas pelo “It’s 3am ad”; e as suas relações com o polêmico reverendo Jeremiah Wright.

Ao que parece, Obama só faz refutar as críticas, sem, no entanto, dirigir novas a Hillary. Essa semana saiu uma charge na Economist que revela bem o atual estado de coisas. McCain montado numa tartaruga, Obama e Hillary montado em cavalos de corrida, que deitados no chão, esperam a briga entre os dois terminar enquanto se distraem com o jogo da velha.



Não há uma relação óbvia e automática entre o governo Bush e um possível futuro governo de John McCain. McCain tem inclusive buscado se distanciar de Bush, apesar do latente apoio do presidente pelo candidato republicano; e existe a impressão generalizada de que ele é um republicano “diferente”.

A estratégia de Obama (sumarizada pelo mote da campanha: “change we can believe in”) é o mote que fez vencer tudo quanto é eleição nos EUA: mudança do atual estado de coisas – para melhor, claro. Obama parece ser o que mais capitalizou nessa idéia. Contudo, se McCain conseguir se distanciar de Bush – o que vai ser difícil com os seus comentários de que ficaria 100 anos no Iraque se fosse necessário –, conseguindo manter a imagem jovem e pouco representativa do maverick que estava pronto para voltar para casa na Guerra e se ofereceu para voar novamente porque a aeronáutica americana simplesmente precisava de pilotos, é possível que McCain venha a vencer.

Entretanto, nós sempre devemos pensar no longo prazo e no aspecto estrutural da campanha e isso me parecer ser o seguinte: os americanos estão insatisfeitos com os republicanos por conta do insucesso da guerra do Iraque e da maior crise econômica que os Estados Unidos vem sofrendo desde muito tempo.

Para o Brasil, em termos comerciais, é mais interessante que um republicano vença, pois os democratas tendem a acusar “the shipment of American jobs overseas” (nas palavras do próprio Barack Obama) ou “the loss of American jobs due to the purchase of imported goods”. Vencendo os republicanos, é possível que o mercado americano se abra mais, por exemplo, ao etanol brasileiro (que permanece sobretaxado em subsídio à incrivelmente ineficiente e (aí, sim) criminosa produção americana de etanol através do milho) e a outros produtos brasileiros. Os Estados Unidos não são o parceiro comercial que eram, mas ainda são muito importantes.

Contudo, vencendo os democratas, os EUA estarão muito mais abertos a uma agenda mais restritiva de emissões de gases do efeitos estufa pós-Quioto. Contudo, se Brasil e outros países em desenvolvimento (let’s call it “China”) (que não tem metas determinadas por Quioto) mostrarem receptividade em estabelecerem, no âmbito interno ou externamente, suas próprias metas, vai ficar insustentável, seja para democratas ou republicanos, não cortar emissões.

2008-05-05

Localização

http://www.nytimes.com/2008/04/27/technology/27proto.html?ref=environment

Ontem li uma interessante matéria no NYT comentando o trabalho de um “inventor” americano, Floyd S. Butterfield, que está desenvolvendo uma espécie de um dispositivo (que supostamente será mais ou menos do tamanho de uma máquina de lavar roupa) para produção de etanol usando açúcar como matéria prima.

A produção dos consumíveis no nível local é algo que se fala já há muito tempo nos Estados Unidos. Da última vez que estive lá, tive a oportunidade de conhecer um supermercado de rua que nada mais era do que um veículo de venda para uma cooperativa de pequenos agricultores locais (Thanks Robi and Will for the wonderful dinner!). “Organic and locally-grown”, são as duas expressões aplicadas à comida ambientalmente consciente nos EUA. Aqui, os orgânicos já estão muito difundidos, mas não fazemos a mínima idéia de onde vêm o que comemos. E deveríamos, afinal, trazer morangos, mirtilos, kiwi e outros alimentos de longe não só custa dinheiro como polui.

Taí uma idéia interessante para o desenvolvimento de políticas – e imagino que isso possa ser regulado no nível municipal ou estadual: obrigar supermercados a, junto à etiqueta de preço, indicar de onde no mundo veio o produto e por que meio de transporte. Isso não seria muito custoso aos estabelecimentos, ajudaria a suscitar maior consciência quanto ao problema do transporte de alimentos e estimularia a produção local. Para estimular a produção local de alimentos, também poderia instituir um imposto relativo à distância: quanto mais quilômetros percorridos, mais imposto. Isso apresenta um problema e deve ser analisado caso a caso, pois muito se ganha em termos de redução de custo com a escala de produção. Mas imagino que, quanto a certos itens (legumes, verduras, frutos e carnes frescos, por exemplo), isso possa funcionar.

O mesmo deveria ser estimulado também em relação a energia, visto o enorme custo ambiental do desmatamento e do desperdício das linhas de transmissão. Cada condomínio poderia ter geradores eólicos rodando em paralelo com o sistema: o que o vento não produzisse seria complementado pelo sistema. Já há algum tempo há um projeto da Sharp que utiliza painéis solares (só que o preço da sílica, matéria-prima utilizada nos painéis, subiu muito de preço e dificultaria a massificação da energia solar fotovoltaica) que, quando produzem mais do que a unidade utiliza, “vende” o excesso para a distribuidora (fazendo o relógio rodar para trás). Por que não?

Mas voltando à máquina de etanol, o inventor diz que queimar um galão de etanol produzido no sistema dele produz um oitavo das emissões de dióxido de carbono geradas pelo equivalente em gasolina. O problema é a matéria-prima utilizada, o açúcar. Segundo a matéria do NYT, o sistema precisa de 10 a 14 libras (4,5 a 6,4 quilos) de açúcar para fazer um galão de etanol (3,78 litros). Segundo a matéria, nos EUA, a libra (450 gramas) de açúcar custa por volta de 20 centavos de dólar, o que faria o custo do litro sair por R$1,25 (na pior das hipóteses, ou seja, usando-se 6,4 litros). Contudo, a matéria diz que é possível comprar açúcar não comestível do México por até 2,5 centavos de dólar por libra (ou seja, por volta de 9,35 centavos de real por quilo), o que baixaria o custo do litro para R$0,15.

O problema é que não se está levando em conta as emissões geradas pelo transporte desse açúcar do México até os centros consumidores, o encarecimento tanto do açúcar comestível quanto do não comestível com a difusão do equipamento e o custo financeiro e ambiental de outros insumos como eletricidade e água (que, diz a matéria, sai do equipamento potável). É uma boa iniciativa, mas o ideal seria se fosse utilizada qualquer matéria orgânica (lixo doméstico, restos de plantas e etc).

Vai dar m...

A China está produzindo e consumindo mais carros do que nunca. Em relação ao ano passado, o consumo de automóveis subiu 20% e, segundo matéria da The Economist dessa semana, não há sinais de que esse impulso está diminuindo. Atualmente, somente 4% da população Chinesa tem carros e, apesar da China estar se configurando em um país dividido entre suas faces rica e pobre, urbana e rural – o que desautoriza a percepção catastrófica de que todos os 1,3 bilhão de Chineses terão como, no curto prazo, comprar automóveis –, ainda há um grande mercado potencial para o automóvel na China. Recentemente, a relação preço de automóvel/salário na China chegou àquele ponto em que analistas entendem como engatilhador do consumo: o preço do carro passou a ser mais ou menos igual ao de um ano de salário. Com crédito barato, que o país tem, fica fácil comprar. O carro também é um símbolo de status na China – o que incentiva ainda mais seu consumo.

Creio que há uns dois anos atrás saiu uma matéria no New York Times falando do aumento do consumo de aparelhos de ar condicionado na Índia, favorecido pelo desenvolvimento. A matéria girava em torno dos gases refrigerantes utilizados, danosos à camada de ozônio. Num momento de cortes de emissões de carbono, vai ficar complicado com a China colocando 6,2 milhões de carros individuais nas ruas por ano, como aconteceu ano passado. O consumo per capita de energia da China ainda é muito baixo, mas o país é o segundo mais produtor/consumidor. O país, com uma população quatro vezes maior do que a dos Estados Unidos, consome por volta de metade da energia dos EUA. Muito do potencial energético chinês é jogado fora em termelétricas antigas e desperdiçadoras. E o pior, essas termelétricas são a carvão que, além de emitirem o dobro de dióxido de carbono que as termelétricas a gás, ainda emitem dióxido de enxofre, que contamina lagos, mata os peixes, destrói plantações, gera a famosa “chuva ácida”, fora as conseqüências para a saúde pública que é melhor nem começar a listar. Oito das dez cidades mais poluídas do mundo estão na China e essa nova frota não virá desanuviar os ares.

Fora o efeito ambiental, é certo que esse novo contingente de automóveis virá pressionar o preço do barril do petróleo. (Aliás, concordo com quem diz que é um absurdo o governo baixar o imposto sobre a gasolina. A produção petrolífera mundial está mostra sinais de esgotamento e o governo incentiva o consumo. Maravilha. Tudo errado. O transporte individual e o uso de combustíveis fósseis devem ser desincentivados; e uma ótima ferramenta continua sendo o mercado.)

OPINIÃO: Cotas, integração identitária e educação

Vou aproveitar a deixa do movimento de artistas e intelectuais contra as cotas para expressar minha posição. Se me lembro bem, o que deu ensejo a essa questão das cotas foi a constatação da baixa presença de negros em cursos superiores em comparação com os percentuais dos extratos raciais do país. A pergunta a ser feita é “o que gera esses baixos índices”?

É impossível não defender a meritocracia; isso é ponto pacífico. Ninguém crê ser correto privilegiar indivíduos por raça. Igualmente, também é ponto pacífico que o sistema de cotas não deve ser um modelo de longo prazo; é uma medida “emergencial”. Portanto, a idéia das cotas seria reparar uma dívida história do Estado para com os negros, pela escravidão ou pela exclusão social. Contudo, esse aspecto emergencial só se justifica se forem tomadas medidas de longo prazo para melhorar o ensino público fundamental e médio. Ou seja, deve-se corrigir as injustiças no curto prazo enquanto se fomenta o fim da raiz dessa injustiça, fomentando a igualdade de oportunidades para todos e o sucesso com base no mérito (e isso implica sérios investimentos em educação). Essa, a meu ver, seria a base conceitual das cotas, mas ainda é possível que se esteja misturando exclusão social com exclusão racial.

Existe preconceito racial no Brasil, sim; mas a falta de acesso à educação pública e gratuita de boa qualidade é igual para brancos, pardos, índios e negros. Por razões históricas e por conta do sobrevivente preconceito racial (hoje ligeiramente mais velado, mas ainda influente), há uma maioria de brancos nos estratos de renda superiores e uma maioria de pardos e negros nos estratos inferiores. Isso é dizer o óbvio, e todo brasileiro sabe disso. Mas a média dos serviços públicos ainda deixa a desejar para todos os que não podem pagar por serviços privados de melhor qualidade, independente de raça. O fator excludente é a pobreza, e não o preconceito racial. Não nesse caso.

Por que, então haveria uma maioria de negros entre os pobres e uma maioria de brancos entre os ricos? Seria o preconceito racial dos descendentes da burguesia escravocrata que, por preconceito, se priva de incluí-los? É pela via da raça o atual mecanismo de exclusão e sua soluçao? As duas primeiras perguntas são retóricas, e é da terceira que quero tratar.

É minha crença e minha expectativa que não, pois imagino haver um fundo social/ identitário e não unicamente racial para o reduzido número de oportunidades envolvendo os mais pobres (e, visto que há uma grande interseção entre raça negra e pobreza, os negros).

As relações sociais são fomentadas em pequenos “clubes”; em espaços determinados. Nossos amigos estudaram conosco na mesma escola, na mesma faculdade; praticavam esportes na mesma praça, no mesmo bairro, na mesma rua, no mesmo prédio, no mesmo condomínio; trabalhavam lado a lado conosco na mesma empresa. Tornamo-nos colegas deles por um mecanismo de identidade: sentimos que neles havia algo de nós, uma proximidade cultural e intelectual. Tínhamos gostos e hábitos similares.

É sabido que grande parte das oportunidades é oferecida ao membros de um círculo de contatos – vide o famoso networking, a rede de contatos que devemos explorar para conseguir melhores oportunidades. Ao abrir vaga, o empregador a oferecerá preferencialmente a “um dos seus”, nunca aos com os quais não se identifica. Só existe “democracia empregatícia”, e em tese, nos concursos públicos.

A questão, portanto, a meu ver, é identitária. Simplificando grosseiramente, brancos (ricos) excluem negros (pobres) não porque os crêem incapazes, inferiores ou os vejam sob qualquer aspecto inerentemente negativo; excluem pois, até o momento, ainda não houve uma total fusão cultural-identitária entre brancos e negros e, assim, os primeiros não consideram os segundos como “um dos seus”. A escravidão gerou um racha social, negros e brancos vivendo em países diversos entre os quais, em 120 anos, ainda não se criaram pontes suficientes. Mas é evidente e inegável que a questão caminhou em sentido positivo.

A igualdade racial dar-se-á no Brasil pela via social, pela integração de cultura, mental, identitária, de hábitos, de costumes, de passado, de história comum; e isso deve resultar em relacionamentos sociais mais profundos. Enfim, se dará por homogeneização cultural, quando deixar de haver identidade racial, quando um indivíduo de uma raça olhar para outros indivíduo de outra raça e ver um brasileiro, um latino-americano, um ser humano – e não um branco ou um negro. Se isso se der, as relações sociais (as escolhas que fazemos e as relações que privilegiamos) deixaram de espelhar a divisão social com base na raça.

Os clubes sempre existirão, mas, com o tempo, o passado e a história cultural deixarão de espelhar a raça para expressar somente o país, a região, a cultura, o nicho social. Será um país sem raça. Esse processo ocorrerá no longuíssimo prazo e a sociedade vem evoluindo nesse sentido. Mas e até lá? Negamos a oportunidade a mais algumas gerações?

O sistema de cotas tem um lado muito positivo, que é admitir que existe uma relação entre pobreza e exclusão racial e tentar reduzir o ranço nefando da escravidão no país. Mas se queremos desenvolver uma sociedade justa, devemos construir um ambiente de iguais; e temo que as cotas possam gerar novos preconceitos.

Nesse sentido o sistema de affirmative action parece mais correto. Ao invés de abrir vagas para um determinado extrato, estimula-se que aquele extrato se desenvolva para que atinja o atual nível de competitividade. O Itamaraty possui um sistema desse; fornecendo uma valor para afro-descendentes com o qual podem pagar cursos preparatórios, livros e etc. O teste permanece sendo o mesmo para todos. Isso é agir nas bases, mas custa muito mais.

No fundo, é essa cultura de que Educação é gasto e não investimento que tem que acabar no Brasil. Repito aqui as palavras da Miriam Leitão: “No século XX, conseguimos crescer inserido em um modelo de desenvolvimento que não exigia muito do cérebro dos trabalhadores. Para conseguirmos um novo ciclo de crescimento, precisamos investir na capacitação das pessoas. É isso que a China e a Índia já estão fazendo.”

2008-05-04

OPINIÃO: Marcha da Maconha

O objetivo da marcha, obviamente, não é incitar o uso maconha. O objetivo é ou defender a descriminalização ou jogar luz sobre o assunto para que volte a ser discutido. É uma maneira válida de mostrar que há uma parcela da sociedade interessada na questão. E, lembremos, a marcha é mundial. Se isso é fazer apologia às drogas, então, prendamos os supostos separatistas do Sul; afinal, é preceito constitucional que as unidades da federação não podem se desligar da união e estariam defendendo uma ilegalidade. Por vezes, parece existir um descompasso entre o direito e a sociedade e essas fronteiras devem poder ser exploradas para que o direito possa ser democraticamente reformado. Está-se tratando a marcha e, consequentemente, do uso e da descriminalização da maconha com um injustificável absolutismo legalista que faz parecer que o objetivo não é um simples respeito cego à lei, mas a mera supressão da passeata.

EUA

Foi divulgada a taxa de crescimento dos EUA para o primeiro trimestre. Cresceram 0,6%, mas isso só se deu por conta dos estoques, que também entram na conta do PIB. Sem eles, a conta teria batido em negativos 0,2%. Isso é um perigo pois, sem consumo e com estoques, a produção pode ser reduzida e, já com 2,0% de taxas de juros anuais, com rebates do imposto de renda (que, mostram as pesquisas, os americanos vão ou guardar ou usar para pagar dívidas) e com outras medidas de economic boost, não vai ter muito o que ser feito.

Se um governo republicano está adotando essas medidas, parece estar havendo consenso em relação ao keynesianismo. Será a morte do liberalismo econômico?

Plástico Verde

Saiu no Canal Energia e também no "O Eco" uma matéria sobre o desenvolvimento do plástico verde. Aparentemente, a partir da cana de açúcar, pode-se desenvolver o eteno, e, a partir do eteno, o polietileno. A vantagem da operação é o fato de ser carbono-negativa, ou seja, de, em seu processo de produção, emitir menos carbono do que seqüestra. Há o problema da não-biodegradabilidade do plástico, mas ele pode ser reciclado, o que alivia o problema dos lixões e aterros e gera oportunidades de renda. Mas e de onde virá a cana?

Hoje, o Brasil possui 220 milhões de hectares dedicados à pecuária e, aparentemente, 50% dessa área já é degradada e poderia ser utilizada para a cultura da cana. A ação da operação Arco de Fogo da policia federal é pontual e foca nas madeireiras. Resta agir sobre a pecuária e sobre a cultura de grãos, redirecionando-as para as áreas já degradadas.

Pelo o que parece, a pecuária brasileira é muito intensiva em área e, onde hoje pasta um boi, poderia pastar um boi e meio. Por que então expandir a extensão dos pastos? Está faltando informação e está faltando os ruralistas e os pecuaristas entrarem na discussão com propostas viabilizadoras da preservação da Amazônia e dos outros biomas brasileiros.

2008-05-03

Drogas e Cotas

Estou escrevendo dois pequenos textos sobre drogas e sobre a questão racial no brasil (inspirado pelas últimas discussões a respeito do sistema de cotas). Em breve, sai.

Reeleição, lógico

Reeleição, lógico.

Dia 30/04, Fernando Henrique Cardoso declarou que um terceiro mandato de Lula “abriria as portas para o autoritarismo”. Os argumentos contrários ao terceiro mandato estão mal direcionados. A questão não é a quantidade de mandatos que um mesmo presidente pode ter em seqüência, mas o fato de que, através da alternância de poder, impede-se a ditadura da maioria e se dá voz a outras vozes. Essa é a questão. Tentam usar de lógica para justificar dois, mas não três.

No mundo, tem-se um experiência consolidada com dois mandatos, mas isso é um tanto aleatório. O que justifica dois e não três não é lógica, mas um “queasy feeling” de que doze anos no poder é um pouco demais.

Não daria no mesmo se Lula saísse e entrasse a Dilma ou qualquer um do “time”? Não seria o mesmo projeto político? Política não é lógica, é casuísmo. Depende do momento político. O PSDB não tinha pessoa forte fora FHC em 98, foi interessante a reeleição. O PT também não tem para 2010. Teme perder o poder e alguns apelam para o terceiro mandato, mesmo Lula declarando-se absolutamente contrário. Existe a possibilidade da aliança com o PMDB de Aécio, mas que tipo de concessões terá que fazer Aécio para contar com o peso político e o eleitorado Lula? Se é esse peso político que vai eleger Aécio, o PT tem uma forte arma para barganhar por mais espaço num possível futuro novo governo comandado por Aécio. Se o PT obtiver esse espaço e se for relevante, terá havido alternância de poder?

Casa Grande e Senzala

Estou relendo Casa Grande e Senzala. O texto sempre esteve na bibliografia básica do concurso e é um texto básico de sociologia brasileira. Digo “relendo”, pois li alguns trechos em "Cultura Brasileira", na faculdade. (Aliás, aproveito para homenagear o jovem professor Daniel que leciona na cadeira na PUC do Rio de Janeiro. Por incrível que pareça, prefiro as aulas quando são totalmente baseadas nos autores. Dessa maneira o aluno pode sempre utilizar uma idéia com a qual teve contato durante a aula citando a própria fonte, e não somente um professor. Daniel colocou como proposta transmitir um pouco de cultura brasileira através de seus sociólogos clássicos: Paulo Prado, Euclides da Cunha, Sérgio Buarque de Hollanda e Gilberto Freyre. Foi durante o espaço dedicado a Gilberto Freyre que li alguns capítulos de Casa Grande.)

Uma frase relativa a Freyre ficou impressa na minha cabeça e, inconscientemente, me resumia a obra: “Gilberto Freyre mudou o sinal da miscigenação.” Com isso, quis ele dizer que GF deixou de considerar a miscigenação um aspecto negativo do homem brasileiro.

Contudo, tal qual seus antecessores mais longínquos – aos quais refuta – GF continua trabalhando com a premissa de que o homem brasileiro tem deficiências e, senão, possui certos traços que nos levariam a concluir que é inferior a outros povos. A diferença do pensamento de GF não está aí, está no motivo que gera essa inferioridade.

GF não deixa de relacionar como fatores influentes o clima e a temperatura, mas os ressalva. Coloca que o homem português – devido à miscibilidade absorvida pelo contato com os Mouros durante a invasão da península ibérica, e pela passado de diferentes possessões em diferentes partes do mundo, etc – estaria mais adaptado que outras “raças” européias à vida nos trópicos. Ressalta que a adaptabilidade e não a simples transposição de um sistema de valores europeus para a Europa fizeram que o império português nas Américas – desprovido de mulheres brancas, por exemplo – pudesse ser viável. Mas além do clima, dentre outros, GF inclui no rol de motivações a paupérrima alimentação do brasileiro, pobre em carnes, legumes e frutos frescos – devido ao latifúndio e à monocultura que a tudo absorvia.

Na introdução da edição que creio ter sido a última – (47a) belíssima, de 2003, a qual comprei usada através do Estante Virtual – Fernando Henrique Cardoso aponta algumas contradições do texto, entre as quais o fato de que o próprio Gilberto Freyre que desde o início da obra aponta o problema de se igualizar raça e cultura, peca por fazer exatamente isso em diversos trechos afirmando, por exemplo, que a miscibilidade do português provém do mouro.

Ao mesmo tempo, descontando essas impropriedades – lendo-se o texto com esse discernimento –, é possível identificar alguns aspectos relativos ao que já se chamou de “História das Mentalidades”. Qual seria o substrato mental que ensejou o tipo brasileiro (se é que isso existe)? É isso que creio devemos buscar em GF.

Perdi a linha na FUNAG

Caros amigos,

Minha pretensão intelectual é benfazeja, mas incrivelmente pouco realista. Esse ano, decidi que quero entrar em contato com várias fontes. Ler. É isso. Assim, fiz algumas compras no Estante Virtual, também na Cia dos Livros (da qual me falaram mal outro dia, reclamando da demora na entrega, o que de fato, se confirmou) e da FUNAG na internet. Não bastasse, em Brasília entre 25 e 28 de Abril, visitei finalmente o Itamaraty e adquiri mais dez volumes no estande da FUNAG. Os livros da Estante Virtual são usados e – apesar da ótimas condições dos livros que comprei até o momento –, consequentemente, bem mais baratos. As edições da Funag são, via de regra, mais baratas do que os livros de outras editoras e, no estande que visitei no Itamaraty, estavam com 50% de desconto, a preço de custo.

O problema, portanto, não foi o valor pago. Mas a quantidade de livros. Estou agora em uma força-tarefa para conseguir adiantar – junto com alguns trabalhos de “frila” – as leituras. Rezem por mim e pela minha sanidade.